Na noite de sexta-feira (25), um momento raro — e até surpreendente — foi registrado durante a novena em honra à Senhora Sant’Ana, padroeira de Iguatu. O prefeito Roberto Filho e o deputado estadual Agenor Neto, tradicionalmente vistos como inimigos políticos, foram flagrados lado a lado, sentados na mesma fileira, no adro da igreja matriz. O gesto de cumprimentarem-se, ainda que breve, chamou a atenção de muitos fiéis e rapidamente repercutiu nas rodas de conversa e nas redes sociais.
O episódio, no entanto, escancara uma contradição gritante: enquanto a fé une, a política local separa. Há pelo menos duas décadas, Iguatu vive um cenário de rivalidade extrema entre grupos políticos que se tratam mais como inimigos do que como adversários. Passadas as eleições, ao invés da cooperação esperada entre representantes eleitos, o que se vê é uma disputa constante de narrativas, tentativas de boicote mútuo e uma guerra silenciosa que emperra o desenvolvimento do município.
O atual prefeito, Roberto Filho, governa sob o efeito de uma liminar, após ter sua chapa cassada pela Justiça Eleitoral. O processo ainda aguarda julgamento final, mas o clima é de instabilidade. Muitos nos bastidores políticos apontam que Agenor Neto, ex-prefeito e hoje deputado estadual, estaria articulando nos bastidores para que a decisão judicial se confirme e novas eleições sejam convocadas. Caso isso ocorra, seu filho, Ilo Neto — derrotado nas últimas eleições justamente por Roberto — deve mais uma vez disputar o cargo. Seria a quarta tentativa do grupo voltar ao comando da cidade.
O fato de ambos os líderes terem estado lado a lado em um dos eventos mais simbólicos e espirituais da cidade gera questionamentos: seria um sinal de reconciliação? Ou apenas uma encenação estratégica, diante da proximidade do pleito de 2026, quando novas eleições para deputado estadual se aproximam?
A comunidade iguatuense, cansada das brigas políticas que travam o progresso da cidade, tem se mostrado cada vez mais crítica. “Aqui, político não é adversário, é inimigo. E quem paga essa conta é o povo”, comentou uma moradora que preferiu não se identificar.
O encontro na novena, embora pacífico e cordial, não apaga o histórico de trocas de acusações públicas, tentativas de desmoralização e sabotagens mútuas. Em outras cidades, prefeitos e deputados se unem, mesmo que em lados opostos, para buscar recursos, articular obras e destravar projetos. Em Iguatu, as conquistas muitas vezes são enterradas pela rivalidade.
A pergunta que ecoa após a cena da igreja é direta e dolorosa: será que Iguatu terá jeito algum dia?
Enquanto políticos só dividem o mesmo espaço na festa da padroeira e seguem separados quando o assunto é o bem-estar da população, o povo continua esperando — e rezando — por dias melhores.